— Eu acho que a sua Figura de Ação podia pensar em algo melhor para fazer com a Barbie — disse Janete rolando os olhos.

— Nada disso. Lutar com vilões é a coisa mais irada — respondeu Gilberto, continuando a brincar com a sua figura de ação. — Além disso, Barbie só quer que o Ação olhe para ela e fique todo melado.

— Olha, você tem que admitir que ele está bem impressionado com a minha linda Barbie.

Gilberto apenas resmungou, e continuou sua devastação manipulada da cidade de LEGO meio construída via Figura de Ação. Ele se maravilhava com a força e versatilidade de Figura de Ação. Ele sempre sabia o que fazer e o que dizer, e era forte e atlético.

É claro que Barbie gostava de Figura de Ação. Não havia dúvida disso, pensou Gilberto.

Enquanto isso, Janete também estava absorta em seus próprios pensamentos.

Realmente, Figura de Ação devia fazer algo mais com a Barbie... que não fosse vencer os caras malvados. Quer dizer, veja só a Barbie! Ela é tão bonita, seu penteado é lindo, e o vestido dela é deslumbrante. É claro que Figura de Ação gosta da Barbie. É claro que gostaria de levar os livros para ela, ou caminhar com ela e segurar sua mão, ou levá-la numa festa ... ou algo assim! pensou Janete.

Nessa noite, uma estrela cadente iluminou o céu, e a menina fez o desejo de ser bonita como a boneca Barbie, e um garoto fez o desejo de ser tão forte como a Figura de Ação.

Tinha algo familiar na figura grande e pesada que se avistava à distância. À medida que se aproximou, suas roupas o denunciaram. Ela reconheceria esse uniforme de camuflagem em qualquer lugar. Figura de Ação! Mas parecia que ele estava andando com dificuldade, e não parava de tropeçar de um lado para o outro.

Ela logo se levantou para se aproximar dele, mas logo percebeu que era quase impossível se manter de pé com seus sapatos de salto.

— Ação! Ação! — chamou ela.

Ele virou-se, reconheceu-a e moveu-se pesadamente na direção dela.

— Estou pesado — disse ofegante para ela. — Não devia estar me sentindo tão pesado.

— Gilberto? É você? — perguntou a garota.

— Sim, acho que sim. É você, Janete?

— Sim! — gritou Janete. — Acho que virei Barbie. — Fiz um desejo muito tolo ontem à noite. … Quase não passou de um pensamento.

Gilberto quis balançar a cabeça afirmativamente, para mostrar que compreendia, mas descobriu que não podia mover a cabeça, uma vez que não tinha pescoço. Contentou-se em verbalizar isso com os olhos.

— Eu também fiz um desejo.

Gilberto tentou se animar ao olhar para seu peito estufado e bíceps super grandes. Olha só como eu estou. Aposto que a Janete vai gostar de mim agora! pensou Gilberto. Olhou furtivamente para Janete pelo canto do olho. Talvez se ele flexionasse seus músculos ou destruísse algo, a Janete prestasse atenção nele.

— Está vendo aquela caixa ali? Aposto que consigo esmagá-la! — disse Gilberto com súbita inspiração.

— O quê…?

Janete não estava entendendo. Ela estava pensando que talvez devesse aproveitar um pouco mais o cumprimento do seu desejo. No final das contas ela queria parecer uma Barbie e que o Figura de Ação carregasse seus livros. Mas o que era isso de esmagar caixas?

Ação mancou até onde tinha um monte de caixas de madeira empilhadas. Parecia que não conseguia se equilibrar direito. Seu peito é três vezes mais largo que a parte de baixo do seu corpo, pensou Janete preocupada.

Gilberto tentou chutar a caixa, mas suas pernas não eram adequadas para esse tipo de ação, e ele caiu pesadamente no chão.

— Oh! — disse Janete, se apressando, ou tentando se apressar até onde Figura de Ação se encontrava. Seus pés eram pequenos demais para andar, e as pernas ridiculamente longas, o que fazia com que fosse quase impossível ela se equilibrar. Acabou engatinhando até onde Figura de Ação estava esparramado no chão.

— Você está machucado? — perguntou ela para Gilberto, enquanto o ajudava a sentar.

— Na... não — disse Gilberto, parecendo mais embaraçado do que machucado, mas também feliz com a preocupação de Janete. — Acho que eu só queria atrair sua atenção.

— Oh… Gilberto, essa é a coisa mais legal que você alguma vez disse para mim.

— É mesmo? — perguntou Gilberto intrigado.

Estava certo que havia dito muitas coisas legais para Janete. No final das contas, ele não estava sempre tentando atrair a atenção dela? Veja todos os prédios e caras ruins que Figura de Ação tinha destruído por causa dela!

— Mas eu achava que você só gostava do Figura de Ação por causa dos seus músculos, por lutar com os caras ruins e coisas assim.

— Não — disse Janete devagar. — Eu brinco com você porque gosto de brincar com você. Acho você esperto e divertido. Quanto a esses músculos, na realidade eles o fazem mais propenso a cair do que a lutar com os caras ruins.

— Isto é bem ridículo, não é mesmo? — disse Gilberto, com um meio sorriso. A Janete é tão inteligente e amável. Nunca me faz sentir mal. Acho que é o que eu mais gosto nela.

Na manhã seguinte, quando o sol raiou, uma menina e um garoto fizeram o desejo de voltar a ser o que eram.

— Posso carregar os livros para você, Janete?

Janete virou-se e viu um garoto com cabelo castanho escuro. Seus olhos transmitiam interesse e amizade.

— Obrigada Gilberto. Sim, eu gostaria.

Moral da história: Tentar ser alguém que você não é, fisicamente ou de outras formas, não vai ajudar a ganhar amigos de verdade. Verdadeiros amigos vão gostar de você por quem você é em vez de por quem você aparenta ser.